Ah, o verão.

No bafo quente daquela tarde de domingo, eu me deitava no chão de pedra de sua casa. O ventilador de teto se remexia na quentura da sala e a enchia de um tec-tec incômodo: um mal necessário. Nas veias, o sangue nos fervia, borbulhava ardido feito brasa, fazendo-nos delirar. Sua boca fria d'água que acabara de beber tocou de leve meu pescoço, arrepiando-me inteira. Jogou-se ao meu lado buscando resfriar o corpo quente. Ficamos ali, estendidos, e ficamos. O sol rebentava na janela, nosso suor escorria e se encontrava, misturando-se tal qual nós próprios. Ao fim, separamo-nos. Se não fosse o beijo cálido que nos selara o compromisso, diria que eu não fora a primeira escolha para representar aquele papel.